quinta-feira, 27 de agosto de 2009

África Negra ao Sul do Sahel

Vítimas da guerra: violência sexual ainda é epidemia

(Tropas da ONU no Congo não impedem onda de estupros)

Mariana Della Barba, enviada especial de O Estado de S. Paulo


BUKAVU, Congo - As ONGs do Congo que apóiam mulheres vítimas de violência sexual são chamadas maisons d'écoute - algo como "casas onde se escuta". Se à primeira vista o nome pode soar estranho, basta entrar em uma delas para entender seu significado. Num país onde o estupro é usado como arma de guerra não só pelas milícias, mas também pelo próprio Exército, as mulheres violentadas simplesmente não têm a quem recorrer. Elas não podem procurar a polícia porque, diante de tantos casos impunes, sabem que será inútil.

Se, por um milagre, o culpado for encontrado e preso, sua pena pode ser paga com um bode ou uma galinha. Rejeitadas pela família e enxotadas pelo marido, resta a elas as organizações humanitárias, que lhes dão tratamento médico e as escutam.

Só em Kivu do Sul - uma das 11 províncias do Congo - foram registrados 17 mil estupros em 2006. O número corrobora a tese de que a violência sexual é uma epidemia no país, ainda mais porque 30% das vítimas contraem o vírus HIV. O mais incompreensível é que isso ocorre debaixo do nariz da maior tropa de paz da ONU do mundo, que no Congo tem 17 mil soldados e leva o nome de Monuc.

Para chegar à ONG Vico, na periferia de Bukavu, é preciso subir um morro a pé. Na casa que abriga a organização propositalmente não há placa alguma. Quem busca ajuda ali não quer ser identificada como vítima de estupro, para evitar mais retaliações. A própria diretora da Vico, Wilhelmine Ntakebuka, também é vista com desconfiança pelos vizinhos. "Eles me criticam por abrigar essas mulheres", conta Willy, como é conhecida.

Na sala principal, seis congolesas trabalham animadamente em máquinas de costura antigas. "Eu nem gosto tanto de costurar, mas quando me sento aqui consigo esquecer de tudo o que me aconteceu. Porque quando volto para casa, começo a lembrar daquele dia e o pesadelo recomeça", conta Nzigire*, de 27 anos, que vai à Vico todos os dias desde julho do ano passado, quando foi violentada por três soldados. "Um bando invadiu o vilarejo onde moro e foi pegando todas as mulheres, uma por uma, não importava a idade." Mesmo após os soldados partirem, o inferno de Nzigire continuou: "Além da humilhação, o estupro fez com que meu marido me abandonasse."


Epidemia de estupros no Congo


Pedro Nogueira costa, Geornal on-line

A violência sexual no congo torna-se cada vez mais banal, principalmente devido à falta de medidas enérgicas por parte das autoridades, onde o agressor se condenado pode livrar-se da pena apenas pagando com um bode ou uma galinha, por isso o país conta com apoio internacional de ONGs, que fazem com que mulheres que sofreram este tipo de agressão tenham todo o apoio moral e psicológico que necessitem.

Os estupros no Congo são empregados como arma de desestruturação social, familiar e psicológica, ocasionando aumento de infectados como a AIDS, reclusão de mulheres violentadas devido o abalo psicológico, abandono por parte das famílias e acima de tudo ocasionando mortes, na maioria dos casos resta apenas a vitima procurar apoio e abrigo em ONGs.

No país este tipo de agressão é praticado por rebeldes, soldados e muitas das vezes pelo próprio marido da vitima, onde por questões culturais o marido tem poder sobre a mulher, maior parte das mulheres abusadas sexualmente nem chegam a denunciar seus agressores, pois sabem que tudo será uma grande perca de tempo devido a impunidade.

Os estupros no Congo tornaram se mais freqüentes na década de 90 com a chegada de rebeldes hutus de Ruanda após o massacre de 800 mil tutsis em 1994, tornando crescente o movimento rebelde no país, trazendo “nuvens de violência” sobre o congo.

A precariedade no atendimento médico também e estarrecedor, as vitimas deste tipo de agressão não podem contar com acompanhamento médico e hospitalar adequados, não recebendo medicamentos como pílula do dia seguinte para não engravidar ou coquetéis de emergia para que não haja contaminação pelo HIV, fazendo com que 30% das vitimas acabe contraindo vírus da AIDS, sofrendo ainda de grande preconceito.

O que é mais absurdo é o descaso de potências e autoridades internacionais que assistem todo esse descaso a figura humana e principalmente feminina e não fazem nada, sendo que esses níveis de violência ocorrem no país Africano com maior número de tropas da ONU, tropas que deveriam estar lá para garantir alguma melhoria social a estes seres humanos.


Della Barba, Mariana. Terça-feira, 18 de dezembro de 2007, 15:28. O Estado de São Paulo. Vítimas da guerra: violência sexual ainda é epidemia. http://www.estadao.com.br/internacional/not_int97904,0.htm.

Um comentário:

  1. Isto é uma calamidade!!! A "humanidade das pessoas" atingida de forma tão brutal! Qual a situação hoje, 15 de março de 2010?

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